Jackson Vasconcelos: economista, com formação em ciência política.
Peguei o título emprestado de uma entrevista que Sérgio Buarque de Holanda fez à revista VEJA e foi publicada nas Páginas Amarelas, na edição de 28 de janeiro de 1976. O autor dispensa apresentações, mas, se alguém precisar delas, visite o que há de melhor escrito sobre a História do Brasil. Basta que fique com Raízes do Brasil, publicado em 1936. Alerto que, na entrevista que cito, Sérgio Buarque de Holanda desaconselhou a leitura da obra, por considerá-la ultrapassada. Perdoe-me o historiador, eu, vez por outra, procuro o livro. Ele explica os problemas que temos enfrentado.
Voltando à entrevista do Sérgio, na parte que justifica o título deste meu pobre trabalho, o repórter fez a pergunta: “Quando o senhor afirma que no Brasil nunca houve democracia, isso talvez signifique que, em certo sentido, as massas populares jamais participaram do jogo político nacional?” Sérgio respondeu: “Claro. No Brasil, sempre foi uma camada miúda e muito exígua que decidiu. O povo sempre está inteiramente fora disso. As lutas, ou mudanças, são executadas por essa elite em benefício dela, é óbvio. A grande massa navega adormecida, num estado letárgico, mas em certos momentos, de repente, pode irromper brutalmente… Até agora, todas as revoluções dentro da história do Brasil foram de elites, civis e militares. E quando a questão se restringe a querelas elitistas, o processo caminha como numa briga de família: aparece um primo, um tio ou um amigo da família com bom relacionamento com ambas as partes capaz de contornar diplomaticamente o confronto direto.”
Opa! Sérgio não viveu o suficiente para conhecer o mundo louco criado pelas tais redes digitais. Elas quebram a hegemonia das elites, mas a um preço alto: o primo, o tio ou o amigo da família só têm bom relacionamento com uma das partes e, por isso, só complicam mais o confronto direto.
O desafio está posto: encontrar quem seja capaz de “contornar diplomaticamente o confronto direto”. Essa figura existe? Não me parece. Já que é impossível usar um primo, um tio ou um amigo, que tal encontrar um líder?